domingo, 19 de setembro de 2010

As cartas que eu não mando

Será que se a gente pedir bem baixinho, rezando sozinho, com muita fé e vontade, Deus atende? Será que se a gente desejar com toda intensidade, as coisas acontecem? Será? Não custa tentar, né? Pois é! Hoje - e em todos os outros dias da minha vida, confesso -, eu queria sentir uma paz que nunca senti antes, daquelas que são capazes de fazer uma pessoa flutuar. Queria morar em uma casinha bem longe daqui, sem barulho, sem gente chata ligando, sem gente vazia querendo me esvaziar. Queria só a casinha, uma meia dúzia de gente linda - interiormente, mas pode ser fisicamente também -, o meu mp3 cheio de músicas e um celular que tivesse acesso só ao twitter. E que ninguém chato me seguisse no twitter - nem na vida real. Queria esquecer todas as coisas ruins que eu vivi até agora. Não, não quero coisas pesadas compondo a minha história. Estou errada? Que pena! Mas não quero mesmo. E queria ter uma memória melhor pra coisas boas, pra detalhes que, sem dúvida, fizeram diferença. E queria muito não ter que ser só superfície, não ser só metade, só isso que as pessoas veem com os olhos. Queria demais que a minha intensidade encobrisse completamente a minha superficialidade, que minha vontade de ser melhor vencesse a minha preguiça e que meu silêncio viesse na hora certa. E queria não ter vergonha de nada que eu fosse capaz de sentir. E que eu conseguisse exteriorizar toda a doçura que eu tenho aqui dentro. Meu Deus! Eu quero muita coisa, muita mesmo. Posso continuar? Prometo que vou resumir, mas vou continuar. E eu queria um carro amarelo, um notebook amarelo, um mol de roupas amarelas. E que as pessoas não soubessem nem o meu nome. Só aquela meia dúzia - ou uma dúzia, não sei bem - do começo, que aquela meia dúzia soubesse tudo de mim. Ou quase tudo! Que sempre sobre uma magiazinha pra (re)descobrir. E eu queria saber cantar. E ter uma banda. Mentira, a banda pode desconsiderar. Queria que todas as minhas falhas fossem nada aos olhos de quem realmente gostasse de mim. E queria ser menos fria com quem não tem nada a ver com minhas paranóias. E mais doce com quem tem tudo a ver com elas. E queria gritar toda vez que tivesse vontade. E mandar menos, ouvir mais. Queria me concentrar mais em Foucault e perder menos tempo em programas ruins. E queria ser mais calma, menos impulsiva e mais aberta a outras opiniões. E queria um amor daqueles de cinema, bem intenso, mas super calminho ao mesmo tempo. E que esse amor me ligasse, no meu celular que só teria acesso ao twitter e a ligação dele, me deixasse morrendo de saudade, mas viesse me ver de surpresa. E queria que ele fosse chato igual eu, mas também inteligente, gostasse de música boa - as minhas músicas boas, claro - e de sair à tarde. Que sorrisse quando eu estivesse brava. E, se não for pedir demais, que seja um amor bem lindo. E que tenha bom gosto, use gola polo e camisetas lindas. É, eu tenho uma quedinha por gente que se veste bem, confessei. Mas voltando aos pedidos... Queria fazer um mochilão pela América do Sul, passar férias em Paris com aquele amor que eu citei antes e ter uma filha que se chama Clara. E, se tivesse um filho, que ele se chamasse Téo. E queria não pensar tanto em coisas que foram feitas para serem vividas, não pensadas. E, pra terminar, eu queria casar na praia ao som de "sereia", do Lulu. É, é só isso. Sou exigente, mas meus pedidos são fáceis, né? Vou fechar o olho e desejar com toda força que eu conseguir.
Pronto!